Entrevista: Paulo Ferreira dos Santos
Founder & CEO Ubirider

 

  No artigo desta semana, entrevistamos Paulo Ferreira dos Santos, CEO da Ubirider, uma startup que se dedica à criação de soluções de mobilidade, como a Pick, seu último produto, que possui como objetivo criar uma mobilidade urbana mais inteligente (https://www.pick.ubirider.com/).

 

  Através desta entrevista tivemos a oportunidade de ficar a conhecer um pouco mais acerca da experiência do Paulo no mundo do empreendedorismo e das aprendizagens conseguidas ao longo do seu percurso, este que teve origem, em parte no nosso ambiente universitário, na FEUP/FEP e na UPTEC.

 

1. Como surgiu a ideia para Ubirider, e mais recentemente a Pick, vindo do seu percurso pela U.PORTO e mais especificamente a FEUP?


  Ao aproximar-me dos 40 anos senti que não devia adiar mais a minha vontade de desenvolver um projeto empresarial internacional (já tinha outros mas de âmbito nacional), o que só faz sentido com tecnologias valiosas e diferenciadas. Soube de um novo mestrado, MIETE – Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico, desenvolvido em parceria entre a FEUP e a FEP, que tinha uma particularidade que me atraiu porque não tinha uma ideia definida sobre que negócio deveria explorar: os alunos poderiam desenvolver os seu projetos usando as tecnologias ou patentes disponíveis na UP. 

 

  Inscrevi-me no MIETE (2004), fui o primeiro aluno a completar esse mestrado (2006) e com base no trabalho desenvolvido criei a minha primeira startup de base tecnológica (2007), que se chamava Tomorrow Options. Contamos com o apoio inestimável do INESC TEC, que foi co-fundador. 

 

  Nessa altura o termo “startup” não era muito conhecido e as empresas de capital de risco (“venture capital”) existentes em Portugal eram muito poucas.  Contamos com um primeiro investimento (“seed capital”) de um fundo académico, pertença de várias universidades, chamado Ciencinvest, que posteriormente foi absorvido pela InovCapital, a empresa de capital de risco do Estado português. Ao fim de algum tempo a Tomorrow Options mudou o nome para Kinematix e a InovCapital para Portugal Ventures. 

 

  O casamento entre a Kinematix e a Portugal Ventures não correu bem e a startup infelizmente foi obrigada a fechar em 2017. Como uma grande parte da equipa da Kinematix queria continuar junta, surgiu a Ubirider, cuja ideia, permitir planear viagens e pagar os serviços de mobilidade de forma mais fácil e integrada, já andava na minha cabeça há alguns anos, fruto das dificuldades que enfrentei durante as minhas constantes viagens pelo mundo.

 

2. Qual foi a sua experiência a criar uma Startup em Portugal, e qual foram as suas maiores dificuldades no ato de criação e nos primeiros estágios da mesma?

  Como atrás disse, a Ubirider não é a minha primeira startup tecnológica, mas mesmo assim a criação e os primeiros tempos não foram mais fáceis. As maiores dificuldades foram captar investimento e lidar com o sistema legal e fiscal português, que é muito penalizador para as startups quando comparado com qualquer um outro país da União Europeia. 

 

  As startups abordam os mercados de forma bem diferenciada da das empresas incumbentes, o que lhes atribui um perfil de risco que torna praticamente inviável serem financiadas pela banca ou outros meios mais tradicionais, pelo menos até terem uma atividade comercial consolidada. São financiadas normalmente por capital de risco, não na perspectiva de “private equity”, direcionado para negócios com “benchmarking”, mas de “venture capital”, que inclui os “business angels”. Este tipo de investidores aporta normalmente o dinheiro necessário e quando são mais sofisticados disponibilizam a sua rede de contactos internacionais para acelerar o desenvolvimento da empresa.  

 

  A indústria de “venture capital” em Portugal ainda é muito dependente de fundos públicos ou da União Europeia, que impõem normalmente regras muito conservadoras e restritivas de investimento e, como é relativamente recente, ainda não possui o grau de sofisticação da existente noutros países. Estas características contribuem para que os processos de investimento sejam normalmente mais lentos, com regras mais restritivas e com valorizações mais baixas (penalizam os empreendedores) do que noutros países. 

 

  Por outro lado, o sistema legal e fiscal português têm regras que tornam muito difícil a vida deste tipo de empresas, mais sustentadas em ativos intangíveis e em produzir rentabilidade a longo prazo, pois podem correr o risco de entrar rapidamente em falência técnica, mesmo que tenham recursos para sobreviver.

 

3. Se tivesse que mudar alguma coisa no seu trajeto profissional, o que seria? O que teria feito de diferente para obter ainda mais sucesso?

 

  Para mim, o valor mais relevante para o desenvolvimento de uma startup é a rede de contactos internacionais e o conhecimento da cultura de fazer negócios em cada país. Por essa razão, provavelmente teria emigrado por uns tempos, para ter desenvolvido essa rede e conhecimento mais cedo do que a adquiri. 

  Eu tenho 57 anos e muitas das oportunidades que hoje são comuns não existiam quando eu iniciei a minha atividade profissional: internet, smartphones, Programa Erasmus, voos “low cost”. Nem a mentalidade era tão aberta ao estrangeiro. Viajava-se e comunicava-se muito menos do que hoje, pois era muito mais caro. A emigração teria sido talvez a única opção. Felizmente, hoje, há muitas formas de ficar cá dentro e desenvolver atividades lá fora.

 

4. Quais características considera que mais ajudaram no desenvolvimento da sua empresa e quais acha que são as mais valiosas para um jovem empreendedor?

  Uma empresa é uma organização muito complexa. Uma startup tecnológica é ainda mais. Nenhum empreendedor possui todas as capacidades que são necessárias ao desenvolvimento do seu negócio, é um dependente de outros. Por essas razões, para mim, a característica mais importante de um empreendedor é a capacidade de atrair (ou, até, de seduzir) e reter pessoas, com o maior talento possível, que possam contribuir para o sucesso da empresa.

 

  Cada empreendedor é diferente no perfil e na abordagem, mas existem algumas características comuns a quase todos, embora combinadas de forma diferente por cada um: humildade, ambição, empatia, paixão, determinação, perseverança, coragem, independência, curiosidade, paciência, avidez de conhecimento, capacidade de decisão, “team player”, visão de longo prazo.

 

  Recomendo a qualquer jovem empreendedor que, antes de o ser, trabalhe ou estagie numa startup, de preferência o mais próximo possível do CEO, pois aprenderá da forma mais fácil e barata muitos dos princípios que lhe serão muito úteis nos seus empreendimentos. 


5. Qual é a próxima etapa para a Ubirider/Pick?

 

  A próxima etapa da Ubirider é a internacionalização, que os efeitos da pandemia têm adiado e que acontecerá já em 2022.

 

          ·          

     

       Esta foi um pouco da história do Paulo e da Ubirider! Se queres ter acesso a mais do mundo do empreendedorismo e da FEP, podes ficar a par de todas as novidades relativas à nossa atividade através das nossas redes sociais! Dá uma oportunidade ao empreendedorismo e abraça a StartUp BUZZ!

AUTORES

Guilherme Menezes

Marketing e Comunicação

André
Oliveira

Financeiro e Controlo